São as primeiras cinco de doze castas esquecidas que a Lusovini começou a plantar na Vinha da Fidalga em 2017 e que está a estudar desde então. Vinhos de 2022, são agora novas referências da marca Pedra Cancela. “Vêm alargar e tornar mais sofisticada a oferta de vinhos do Dão”, afirma Casimiro Gomes.

A Lusovini vai lançar vinhos de três castas brancas e duas tintas de grande potencial que a viticultura e a enologia do Dão tinham deixado de plantar há décadas para trás. Terrantez, Uva Cão e Douradinha são os novos vinhos Pedra Cancela Vinha da Fidalga a que as castas brancas deram origem. As castas tintas também dão nome a outros dois novos Pedra Cancela Vinha da Fidalga: Malvasia Preta e a Monvedro (ver fichas técnicas dos vinhos em anexo).

São os cinco primeiros produtos finais de um projeto mais vasto que envolve 12 castas esquecidas que a Lusovini identificou e descobriu em vinhas antigas. Entre 2017 e 2019, plantou-as na sua Vinha da Fidalga, a quinta da Pedra Cancela situada no concelho de Carregal do Sal. Desde então o investimento vitícola e enológico da Lusovini concentrou-se no comportamento na vinha, e, depois, em microvinificações das cinco castas já engarrafadas e de outras sete castas do Dão igualmente “esquecidas” que, agora, aguardam a sua vez: Arinto do Interior, Gouveio, Rabo D’Ovelha, Luzídio, Barcelo (brancas) e Coração de Galo e Corninfesto (tintos).

“Decidimos avançar com as cinco castas cujos resultados são, para já, mais interessantes”, afirma Casimiro Gomes, administrador, mas que aqui aplicou a sua paixão técnica como principal responsável pelas experiências vitícolas que decorrem na Vinha da Fidalga. “Tem sido fascinante, não só observar o comportamento das castas na vinha, que estamos apenas a começar a perceber, como ver também o valor extraordinário que elas já demonstram a solo e, potencialmente, em futuros lotes”. Este pioneirismo da Lusovini é, para Casimiro Gomes, “antes de mais, um serviço prestado à região e à recuperação do seu património genético”.

As primeiras experiências com microvinificações começaram em 2021. Mas foi em 2022 que se considerou terem surgido os primeiros vinhos com potencial comercial. “Decidimos fazer todo o processo de vinificação e de estágio da forma mais neutra possível”, afirma Sónia Martins, presidente executiva da Lusovini e principal responsável pela sua enologia. “Nesta fase prescindimos da madeira e optámos por depósitos inox e leveduras neutras: o nosso objetivo, é percecionar o melhor possível as caraterísticas próprias de cada uma das castas e, assim, obter informação autêntica, sem artifícios”.

Vinhos de grande vocação gastronómica

Deste trabalho resultaram vinhos com grande vocação gastronómica e, cada um deles, com personalidade bem vincada. No capítulo dos brancos, o Terrantez 2022 distingue-se por uma bela frescura mineral que se vai complexificando ao longo da prova, aromas vegetais e a noz e bom volume de boca. A Uva Cão tem grande intensidade aromática, iodada, e, na boca, uma acidez excelente com salinidade que remete para vinhos marítimos, como os das ilhas. Também muito mineral e com um nariz algo fumado, a Douradinha distingue-se pela acidez mais elevada dos três novos brancos, prometendo grande evolução em garrafa.

Nos vinhos tintos, a Malvasia Preta mostra-se uma grande companheira à mesa, com boa acidez e taninos médios, boa fruta, grande elegância. O Monvedro, por seu lado, é um vinho inesperado para o Dão “diferente de todos os vinhos portugueses que temos na nossa memória” afirma Sónia Martins

“São castas que vêm alargar e tornar mais sofisticada a oferta de vinhos do Dão e, nessa medida, são uma pedrada no charco de uma oferta global da região que podia ter-se renovado mais nos últimos anos”, afirma Casimiro Gomes.

A enóloga chefe da Lusovini, Sónia Martins, reforça o caráter experimental destes lançamentos:

“São vinhos que nos agradam muito e dos quais não existem, do passado, garrafas com os quais os possamos comparar”, afirma. “A forma como vão evoluir em garrafa irá dar-nos indicações preciosas para opções enológicas no futuro e, quem sabe?, para lotes com duas ou mais castas”.

Boa parte das 12 castas plantadas na Quinta da Fidalga foi obtida junto de experientes enxertadores da região que, desde as últimas décadas do século XX, têm trabalhado e feito enxertias em quase todas as quintas e vinhas do Dão. Foram eles que disseram onde estavam as vinhas das quais vieram a maior parte dos “garfos” (enxertos) de castas antigas para as parcelas da Lusovini. Outras castas foram encontradas no Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, em Nelas.

“Começámos por validar a natureza dos garfos que recolhemos pela ampelografia, verificando se as folhas correspondiam às descrições das cascas que foram feitas e desenhadas em velhos livros de agronomia”, afirma Casimiro Gomes. “Depois plantámo-las. E verificámos que cada uma delas tem comportamentos muito próprios em vinha, os quais, em certos casos, poderão explicar a razão de, no passado, terem sido relegadas para segundo plano”.

É caso da Terrantez, a qual fecunda mal e precisa de ser conduzida de cima para baixo para ter o arejamento e a dissipação da humidade que precisa. Algo de semelhante se passa com a Douradinha, que é sensível à “podridão cinzenta” e precisa igualmente de estar bem arejada. Também a Malvasia Preta tem essa necessidade, mas no seu caso, requer um sistema de condução ascendente e de poda de folhas antes da floração.

Quanto às temperaturas, os comportamentos mostraram ser muito diferentes. O Monvedro sofre com o calor, pelo que deve ser plantado em zonas com pouca exposição solar, regra geral solos mais frescos com exposição a Norte. Já a Uva Cão é altamente resistente ao stress hídrico, não perdendo ácidos mesmo em anos de muito calor.